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sei muito bem que o cavalo branco de Napoleão é preto. quem aprende a ver essências não se deixa iludir pela linguagem. (TECEDEIRO, André. O número de Strahler. Coimbra: Do lado esquerdo, 2018)

Implacável como a tarântula

 (…) enquanto existirem seres humanos por aí nunca existirá nenhuma paz para nenhum indivíduo nesta terra (ou em qualquer outro lugar para onde eventualmente alguém possa escapar). tudo que você pode fazer é talvez obter dez minutos de sorte aqui ou talvez uma hora ali. algo está trabalhando contra você neste exato momento, e me refiro a você e ninguém senão você. (BUKOWSKI, Charles. Você fica tão sozinho às vezes que até faz sentido. Porto Alegre: L&PM, 2018)

Não sei que dia é em minha volta

Não sei que dia é à minha volta mas sei que fomos avistados na certeza deste bairro, rodeados de carros tristes e pombos esmagados, rodeados da comovente dor dos candeeiros que servem para dar à luz coisa nenhuma (…) Para que melhor me entendas queria estender-te o pensamento em palavras, mas não sei falar. Para se falar é preciso estar dentro da vida É preciso encontrar uma rua que nos leve ao peito mas as ruas não andam e eu nem a casa regresso A minha linguagem é mais seca que um deserto e mais incompreensível que estes loucos que trago pendurados na boca Falar provoca doenças Falar é mais grave que um tiro Há que ter cuidado para não morrermos de palavras por isso nem sou eu que  escrevo é a mão da minha infra-consciência Mas quero dizer-te que estamos aqui, não duvides, perante os carros mal estacionados, (…) Estamos aqui e eu quero dizer-te que é de ti que vêm as casas e é de ti que vêm os ossos E que se quiseres podemos ser como as pontes: eu num lado, tu no outro e no meio a di
Abre a boca e fecha os olhos. Podes saborear, não podes ver, está tudo visto demais, é lá de cima que vem a chuva, é lá em cima que está o céu, e o sol, e as nuvens, e é por cima de nós que andam os pássaros. Invadimos, sim, os ares, será culpa, será ainda espanto isto de olharmos para o céu quando passa um avião? (PEREIRA, Helder Moura. Pela parte que me toca. Lisboa: Assírio & Alvim, 2013)
O maior paradoxo do desejo não está em procurar-se sempre outra coisa: está em se procurar a mesma, depois de se ter encontrado. (Vergílio Ferreira)

O estouro

(…) há tamanha solidão no mundo que você pode vê-la no movimento lento dos braços de um relógio. pessoas tão cansadas mutiladas tanto pelo amor como pelo desamor. (…) estamos com medo. nosso sistema educacional nos diz que podemos ser todos grandes vencedores. eles não nos contaram a respeito das misérias ou dos suicídios. ou do terror de uma pessoa sofrendo sozinha num lugar qualquer intocada incomunicável regando uma planta. as pessoas não são boas umas com as outras. as pessoas não são boas umas com as outras. as pessoas não são boas umas com as outras. suponho que nunca serão. não peço para que sejam. mas às vezes eu penso sobre isso. (…) tem que haver um caminho. com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda não pensamos. quem colocou este cérebro dentro de mim? ele chora ele demanda ele diz que há uma chance. ele não dirá "não". (trecho de “O estouro”, de Charles Bukowski)